A psiquiatria está vivenciando uma fase de abertura para novas perspectivas promissoras, entre elas o uso de fármacos psicodélicos. Atualmente, dentre eles, a Cetamina é o único medicamento que pode ser prescrito legalmente. Argumentamos que, em doses subanestésicas, a Cetamina induz um espectro distinto de estados alterados, que variam desde experiências psicoativas até vivências profundas de dissolução do ego, aspectos fundamentais para os efeitos terapêuticos da substância. Quando essas vivências estão contempladas dentro de uma proposta de integração favorecemos a ampliação da consciência subjetiva do paciente, possibilitando alcançar crescimento pessoal, cura emocional, maior clareza e melhores relações interpessoais. A despeito de muitos estudos rotular os efeitos dissociativos da Cetamina como meras “repercussões secundárias” ou até como um efeito colateral indesejado, a alteração da consciência representa um componente intrínseco e inevitável de seu impacto terapêutico. Em ambientes e contextos apropriados, essas experiências têm se mostrado benéficas em termos de psiquiatria e psicoterapia, oferecendo uma pausa nos padrões mentais habituais para facilitar a reconstrução da autoconsciência junto ao alívio sintomático. Assim, a Cetamina assistida por psicoterapia (CAP) apresenta um vasto potencial terapêutico na área da psiquiatria e psicoterapia, enfatizando a importância da valorização da experiência, individualidade e imaginação.
A Redução de Danos e Integração Psicodélica (RDIP) representa um modelo clínico abrangente que transcende fronteiras diagnósticas e teóricas, integrando princípios da psicoterapia de redução de danos, terapia assistida por psicodélicos, práticas de atenção plena e terapia psicodinâmica, para criar uma estrutura de trabalho com pacientes que se apresentam no processo de tomada de decisão antes do uso de psicodélicos ou posteriormente para assistência psicológica e médica. No presente artigo, se discute a importância de minimizar os riscos associados ao uso de psicodélicos em diversos cenários, incluindo ambientes terapêuticos, contextos espirituais, grupos de apoio social, exploração individual ou situações recreativas, proporcionando suporte e orientação para os usuários em ambientes seguros, bem como a necessidade de ajudá-los a processar e dar sentido a tais experiências, facilitando a incorporação de insights e aprendizados na vida cotidiana. O modelo RDIP oferece um afastamento das abordagens baseadas na abstinência para trabalhar com pessoas que usam psicodélicos, enriquece o processo terapêutico ao oferecer novas perspectivas sobre os processos de tomada de decisão e de criação de significado, e reconhece e trabalha com a variedade de relacionamentos que os pacientes têm com os psicodélicos, desde prejudicial a totalmente benéfico.
O estudo teve como objetivo avaliar os efeitos antidepressivos da Cetamina em pacientes com depressão resistente ao tratamento por meio de infusões únicas, repetidas e de manutenção. Foi realizada uma comparação cruzada duplo-cega randomizada envolvendo 41 participantes, os quais foram submetidos a infusões únicas de Cetamina e Midazolam como controle placebo ativo. Os resultados indicaram que a Cetamina promoveu reduções significativas nos sintomas depressivos em comparação com o Midazolam, sendo mais pronunciadas 24 horas após a infusão inicial. Infusões repetidas de Cetamina demonstraram efeitos antidepressivos cumulativos com 59% dos participantes atendendo aos critérios de resposta após essas infusões. A manutenção da resposta antidepressiva foi observada com infusões semanais subsequentes, sugerindo a sustentabilidade dos efeitos antidepressivos da Cetamina. O estudo concluiu que as infusões repetidas de Cetamina apresentam efeitos cumulativos e antidepressivos sustentados em pacientes com depressão resistente ao tratamento, com melhorias nas pontuações de sintomas depressivos mantidos ao longo do tempo em respondedores. Essas descobertas fornecem insights valiosos sobre estratégias eficazes de administração de Cetamina nesse contexto clínico, destacando a importância de futuros estudos para otimizar ainda mais o uso dessa terapia em pacientes com depressão resistente ao tratamento.
O estudo investigou a experiência de 13 pacientes com depressão resistente ao tratamento que receberam infusões de Cetamina. Através de entrevistas qualitativas, os participantes descreveram uma fase inicial de euforia e percepção alterada, seguida por uma melhoria no humor e na redução dos sintomas depressivos, incluindo redução ou ausência de ideias suicidas, por cerca de 3 a 6 dias. Eles enfatizaram a importância da aliança médico-terapêutica e de um ambiente de tratamento onde os pacientes se sintam apoiados, seguros e relaxados para maximizar a chance de uma experiência positiva e minimizar a chance de uma experiência negativa. Apesar das limitações do estudo, como o tamanho da amostra e recrutamento em um único local, os resultados sugerem que a Cetamina pode ser uma opção benéfica e promissora para alguns pacientes com depressão resistente ao tratamento convencional.
Nos últimos anos, a Cetamina tem sido usada psiquiatricamente no tratamento da depressão resistente ao tratamento (DRT), principalmente administrada via intravenosa e sem componente psicoterapêutico, com seus efeitos psicodélicos considerados como efeitos colaterais indesejáveis. No entanto, acredita-se que a Cetamina poderia beneficiar pacientes com diversos diagnósticos quando combinada com psicoterapia e sem a necessidade de administração intravenosa, devido à sua segurança demonstrada ao longo de décadas de uso. A prática emergente de Cetamina assistida por psicoterapia (CAP) tem como objetivo otimizar o tratamento em consultório, aproveitando as propriedades psicodélicas da Cetamina. Este artigo explora a CAP dentro de uma estrutura analítica, apresentando dados de 235 pacientes que indicam que a CAP é eficaz na redução da depressão e da ansiedade em consultórios privados, com resultados particularmente significativos em pacientes idosos e com sintomas graves. O estudo sugere que o CAP pode ser uma abordagem efetiva para tratar o sofrimento emocional e sintomas psicológicos em pacientes diversos.
O transtorno bipolar tipo 1 é uma condição psiquiátrica grave e crônica caracterizada por episódios depressivos refratários em muitos pacientes, tornando o tratamento desafiador. A Cetamina, um modulador de glutamato com propriedades dissociativas e psicodélicas, demonstra efeitos antidepressivos e antiobsessivos de ação rápida que podem ser benéficos no manejo dos sintomas da depressão bipolar. A pesquisa existente tem explorado a Cetamina em doses subpsicodélicas administradas por infusão, usualmente sem psicoterapia concomitante. Este artigo inova ao articular três paradigmas de tratamento com Cetamina: bioquímico, psicoterapêutico e psicodélico, e apresenta vinhetas clínicas para descrever abordagens no uso de Cetamina na depressão bipolar. São discutidas considerações clínicas abrangentes, como via de administração, dose, frequência, possíveis interações medicamentosas e eventos adversos. Este estudo amplia a compreensão do uso da Cetamina no tratamento da depressão bipolar, considerando diferentes perspectivas terapêuticas e práticas clínicas.
A pesquisa apresentada destaca a eficácia potencial da Cetamina no tratamento do transtorno de estresse pós-traumático (TEPT) e dos sintomas de depressão. Os estudos analisados mostraram que a Cetamina foi capaz de reduzir significativamente os escores de TEPT, sintomas de depressão e prolongar o tempo para recorrência do TEPT em comparação com o grupo controle. Os resultados indicaram que a Cetamina teve um impacto positivo nos sintomas do TEPT e da depressão logo no primeiro dia de tratamento, assim como nas semanas subsequentes. No entanto, foi observado que os efeitos positivos podem ser temporários e a longevidade desses efeitos precisa ser melhor compreendida para determinar a eficácia a longo prazo da Cetamina no tratamento do TEPT. Embora a Cetamina tenha demonstrado benefícios significativos, incluindo rápida melhora dos sintomas, prolongamento do tempo para a recidiva do TEPT e redução dos escores de depressão, é importante notar que os efeitos colaterais, como boca seca, tontura e visão turva, também foram observados em pacientes que receberam Cetamina. Portanto, a Cetamina pode representar uma opção terapêutica adicional para indivíduos com TEPT e depressão, mas mais pesquisas são necessárias para determinar sua eficácia a longo prazo e seu lugar no manejo desses transtornos.
O texto discute a potencial utilização da Cetamina como uma abordagem inovadora no tratamento da depressão em pacientes em cuidados paliativos. O estudo teve como objetivo reunir evidências sobre a segurança e eficácia da Cetamina nesse contexto mais amplo. Foram examinados diversos estudos, incluindo relatos de casos, séries e ensaios clínicos; totalizando 32 estudos analisados. Embora a maioria dos relatos de casos tenha destacado resultados positivos e robustos, os estudos maiores apresentaram resultados conflitantes. Alguns ensaios clínicos randomizados demonstraram benefícios da Cetamina, especialmente em cenários perioperatórios, porém, outros estudos não abordaram especificamente a depressão ou a gravidade da condição. A conclusão do estudo destacou a relativa segurança e utilidade da Cetamina, mas sua eficácia em ambientes de cuidados paliativos permanece incerta. Sugere-se que a Cetamina pode ser considerada como uma alternativa viável para casos de depressão em pacientes oncológicos em contextos perioperatórios. No entanto, a eficácia da Cetamina na gestão da depressão em cuidados paliativos precisa de mais investigação para esclarecer seu papel nesse contexto específico.
Este estudo é uma revisão sistemática que analisou 17 artigos com 603 participantes e indica que a combinação da infusão de Cetamina com sessões de Psicoterapia, a Cetamina assistida por psicoterapia (CAP), pode resultar em reduções clinicamente significativas na dor, ansiedade e sintomas depressivos, além do abuso de substâncias. A capacidade da Cetamina de induzir efeitos antidepressivos e ansiolíticos pode facilitar o processo terapêutico ao servir como um catalisador para mudanças rápidas, aumentando a participação e adesão ao tratamento, fortalecendo a aliança terapêutica e diminuindo a resistência do paciente. Além disso, a Cetamina pode proporcionar alívio imediato dos sintomas angustiantes e facilitar experiências transpessoais em doses mais elevadas. A continuidade da psicoterapia após a administração de Cetamina pode prolongar os efeitos terapêuticos temporários desse medicamento, permitindo a integração de insights psicológicos no cotidiano do paciente. Embora ainda não haja um protocolo padrão para o uso de CAP, é crucial fornecer suporte adequado ao paciente durante o procedimento com Cetamina e oferecer sessões de psicoterapia subsequentes para manter os benefícios alcançados e prevenir recaídas.
O estudo teve como objetivo examinar as experiências dos participantes com infusões de Cetamina em um ambiente de ensaio clínico em relação aos mecanismos terapêuticos. Entrevistas semiestruturadas foram conduzidas com 12 participantes que receberam até três infusões de Cetamina (0,8 mg/kg) como parte de um ensaio clínico randomizado, duplo-cego, de fase II. Os resultados identificaram seis temas principais: (1) motivações dos participantes para o estudo, (2) influência do ambiente nas experiências agudas com Cetamina, (3) contradições nas experiências (dissociação versus conexão), (4) flutuações rápidas, (5) experiências significativas e espirituais, e (6) efeitos transformacionais das infusões. Foi observado que o tratamento com Cetamina, quando administrado em um ambiente de apoio profissional, resultou em mudanças significativas na relação dos participantes com o álcool. A dissolução e a dissociação do ego induzidas pela Cetamina foram associadas a efeitos transformacionais na relação com o consumo de álcool. A relação entre os efeitos psicoativos agudos da Cetamina e os resultados terapêuticos no consumo de álcool ainda está em investigação. Os efeitos agudos da Cetamina relatados pelos participantes vão além das expectativas tradicionais, apontando para possíveis implicações terapêuticas adicionais deste tratamento inovador.
Este estudo tem como objetivo investigar a eficácia e segurança de uma infusão intravenosa única de Cetamina em doses subanestésicas para o tratamento do transtorno de estresse pós-traumático (TEPT) e sintomas depressivos associados. Foi realizado um ensaio de prova de conceito, randomizado, duplo-cego e cruzado, comparando Cetamina com um controle placebo ativo (Midazolam) em 41 pacientes com TEPT crônico. Os resultados mostraram que a infusão de Cetamina resultou em uma redução significativa e rápida na gravidade dos sintomas de TEPT em comparação com o Midazolam, sendo essa diferença mantida após ajustes para linha de base e gravidade dos sintomas depressivos. Além disso, a Cetamina também demonstrou redução dos sintomas depressivos comórbidos e melhora do quadro clínico geral, sendo bem tolerada e sem efeitos adversos clinicamente significativos. Esses achados indicam que a Cetamina pode ser uma opção promissora no tratamento do TEPT crônico, proporcionando uma redução rápida e significativa nos sintomas, o que pode representar um avanço e levar a novas abordagens terapêuticas para essa condição incapacitante.
O artigo discute a terapia psicodélica assistida em três etapas: Preparação, Sessão Psicodélica e Integração, sendo a preparação crucial para otimizar os efeitos benéficos e a integração essencial para manter as melhorias a longo prazo. Propõe-se um novo modelo, o modelo ACE (Accept, Connect, Embody), baseado no conceito de flexibilidade psicológica, que ressignifica os seis processos da PFM em uma tríade de aceitação e uma tríade de conexão. Este modelo está sendo aplicado em um estudo em andamento sobre o tratamento da depressão com Psilocibina. O artigo destaca que a flexibilidade psicológica pode ser fundamental nos processos de mudança na terapia com Psilocibina e sugere que a mesma pode aumentar especificamente essa flexibilidade, indicando que abordagens terapêuticas baseadas na flexibilidade psicológica podem ampliar os benefícios do tratamento com Psilocibina, unindo a experiência interna provocada pela substância com uma vida externa mais satisfatória.